Impacto da alimentação na saúde

As escolhas alimentares são um dos factores determinantes da saúde humana (e igualmente da sustentabilidade ambiental).

Nove dos quinze fatores principais de risco para a morbilidade global resultam da má qualidade alimentar. As doenças associadas às opções alimentares, incluindo as doenças coronárias, a diabetes tipo II, os acidentes vasculares cerebrais e os cancros colorretais, são responsáveis por quase 40% da mortabilidade global. No entanto, podem ser preveníveis.

Um mudança substancial no regime alimentar , para um de base vegetal, pode contribuir de forma significativa para promover a longevidade e reduzir as taxas de mortabilidade precoce. As leguminosas são nutricionalmente benéficas para a saúde humana. Um regime alimentar baseado no seu consumo permite assegurar todos os aminoácidos essenciais e contribui para uma alimentação saudável e equilibrada.

Os hábitos alimentares dos portugueses estão longe de serem saudáveis, e estão distantes do que são as raízes da cultura gastronómica portuguesa. Uma transição para a proteína vegetal requer obviamente uma mudança. Mas a mudança não seria algo de novo, ou até estranho, para alguns dos portugueses, em particular, para as gerações mais antigas que se recordam de uma outra forma de nos alimentarmos.

É necessário contrapor com uma nova, ambiciosa e necessária mudança em direção a um sistema alimentar baseado predominantemente na proteína vegetal, mais semelhante aos hábitos alimentares tradicionais, de origem mediterrânica, e que permita simultaneamente abordar algumas das problemáticas sociais e ambientais que enfrentamos atualmente.

Regresso às raízes

A transição para uma alimentação de base vegetal, em Portugal, é compatível com a ideia de um regresso "às raízes" dos hábitos alimentares nacionais.

Impacto económico e alimentação

A produção interna de leguminosas, em Portugal, está longe de ser suficiente para satisfazer o consumo interno dos consumidores.

O grau de autoaprovisionamento do total das leguminosas secas é de 18,6%, sendo que do feijão e do grão é de apenas 11% e 16,7% (INE,2021), respetivamente. Se temos necessidades de consumo superiores e condições edafoclimáticas para as satisfazer, o que nos impede de produzir mais leguminosas?

A nível global, assiste-se à evolução positiva na procura por leguminosas (ou produtos à base das mesmas) e por alternativas vegetais. Prevê-se uma taxa de crescimento anual composta, no mercado global de leguminosas, de 4,6%, entre 2019 a 2027, estimando-se que a venda das alternativas vegetais à carne ocupem 5% da quota de mercado, até 2030: uma oportunidade de investimento e de crescimento económico para o país.

Como exemplo do impacto que as leguminosas podem ter no mercado, surgem as ervilhas. Chegam mesmo a ser consideradas para a liderança no mercado enquanto fonte de proteína vegetal, projetando-se uma taxa de crescimento anual composta de 12,7% até 2027.

Queres conhecer melhor 3 leguminosas?

Apresentamos-te o tremoço, a ervilha e o grão-de-bico.

Queres conhecer melhor 3 leguminosas?

Apresentamos-te o tremoço, a ervilha e o grão-de-bico.

Tremoço

Lupinus albus L.

Reconhecido em Portugal enquanto petisco e sendo chamado, por alguns, de "marisco dos pobres", foi relegado a um papel que não lhe serve. No entanto, não lhe falta popularidade, ora não fosse esta leguminosa a estrela da expressão "mais conhecido que o tremoço"

As primeiras referências históricas que se conhecem da ervilha em Portugal encontram-se no Auto dos Físicos, da autoria de Gil Vicente (1465-1536).


Benefícios para o ambiente, produtores e consumidores

Fonte importante de alimento para insetos polinizadores (como as abelhas)

Baixa pegada de carbono em cerca de 178 vezes menos do que a média da pegada carbónica da produção de carne de bovino (em modo intensivo)

Procura crescente no mercado nacional e internacional, para transformação em produtos como farinha e alternativas à carne de base vegetal

Mobiliza, através das suas raízes, forma fixas de fósforo do solo

Reduz sensação de fome, devido à elevada presença de proteína

Ajuda a regular flora intestinal, colesterol e índice de glicemia, devido à presença de fitoquímicos

Benefícios para o ambiente, produtores e consumidores

Fertilizante natural para os solos

Baixa pegada de carbono em cerca de 305 vezes menos do que a média da pegada de carbono da produção de carne de ovinos

Contribui para um sistema agrícola eficiente: pode ser usada como adubo verde e cultura fixadora de azoto

Mobiliza, através das suas raízes, formas fixas de fósforo do solo

É fonte de ferro e contibui para a produção de glóbulos vermelhos saudáveis

Associada à diminuição de risco de doenças cardiovasculares

Ervilhas

Pisum sativum L.

A ervilha verde é uma das leguminosas com melhor adaptação às condições do inverno português, sendo das mais cultivadas e com maior importância comercial. Com certeza já ouviste, ou já referiste, "vai à fava enquanto a ervilha enche". O porquê da expressão? Apesar de serem semeadas aproximadamente na mesma altura, a fava colhe-se enquanto se aguarda pela da ervilha.

Ervilhas

Pisum sativum L.

A ervilha verde é uma das leguminosas com melhor adaptação às condições do inverno português, sendo das mais cultivadas e com maior importância comercial. Com certeza já ouviste, ou já referiste, "vai à fava enquanto a ervilha enche". O porquê da expressão? Apesar de serem semeadas aproximadamente na mesma altura, a fava colhe-se enquanto se aguarda pela da ervilha.

Benefícios para o ambiente, produtores e consumidores

Fertilizante natural para os solos

Baixa pegada de carbono em cerca de 305 vezes menos do que a média da pegada de carbono da produção de carne de ovinos

Contribui para um sistema agrícola eficiente: pode ser usada como adubo verde e cultura fixadora de azoto

Mobiliza, através das suas raízes, formas fixas de fósforo do solo

É fonte de ferro e contibui para a produção de glóbulos vermelhos saudáveis

Associada à diminuição de risco de doenças cardiovasculares

Grão-de-Bico

Cicer arietinum L.

A sua origem é indicada como sendo o Médio Oriente, de onde terá vindo para a Europa com as viagens de povos mercantis, devendo-se-provavelmente aos Fenícios a sua introdução em Portugal. Dada a sua versatilidade e facilidade de uso e cultivo, o povo português costuma dizer o seguinte sobre o grão-de-bico: "O grão só precisa de duas águas: a de semear e a de cozer".

Benefícios para o ambiente, produtores e consumidores

A utilização do grão-de-bico como adubo verde, promove redução das emissões de GEE, em comparação com os sistemas que utilizam os adubos azotados.

Baixa pegada de carbono em cerca de 24 vezes menos do que a média da pegada de carbono da produção de carne de aves de capoeira.

Capacidade de adaptação às condições mediterrânicas e edafoclimáticas portuguesas: muito tolerante às condições de secura.

Apresenta compostos que têm um papel importante na prevenção de doenças crónicas.

Pode ser consumido cozido, tostado, frito, assado, transformado em salgados, com condimentos ou com doces, bem como transformado, como é o caso do húmus.

As condições edafoclimáticas de cada região são determinantes para a escolha das espécies vegetais a cultivar, especialmente a temperatura na interface ar/solo, a disponibilidade de água e a natureza do solo.

No que respeita à natureza do solo, as características determinantes à adaptação e produtividade das leguminosas são: profundidade, permeabilidade e agregação do solo, capacidade de retenção e drenagem de água, pH do solo e disponibilidade de nutrientes (Carneiro, 2020).


As leguminosas são consideradas plantas "amigas do ambiente" uma vez que são capazes de estabelecer relações simbólicas entre as suas raízes e bactérias fixadoras de azoto (Rhizobium spp.) presentes no solo, permitindo a fixação biológica de azoto atmosférico (Barroso et. al., 2007).


Dentro das várias espécies existentes de leguminosas, encontram-se opções com diferentes características que permitem a adaptação a solos de natureza distinta, tais como culturas adaptadas a solos mais ácidos, como o tremoço, outras a solos mais básicos como a fava e o grão-de-bico, e outras com uma ampla capacidade de adaptação, como as lentilhas


Em relação à textura dos solos é possível encontrar uma cultura leguminosa que esteja adaptada às condições do terreno. As faveiras preferem solos de textura média-fina a fina (desde que bem drenados), as ervilhas e grão-de-bico preferem solos de textura média, e os tremoços preferem solos de textura média-grosseira a grosseira.

Alguns impactos, positivos no solo, que decorrem da introdução de leguminosas:

Aumento da atividade e riqueza do microbloma (Hamel et al., 2018);

Desenvolvimento da matéria orgânica;

Melhoria da estrutura do solo e da sua capacidade de infiltração e retenção de água;

Aumento da retenção de nutrientes;

Assimilação dos nutrientes pelas culturas em campo (reduzindo o problema da lixiviação e suas consequências);

Melhoria da estrutura do solo, que permite também uma redução dos processos de erosão e compactação, evitando a deterioração dos solos.

É produtor ou agricultor?

Descarregue gratuitamente o Manual de Diretrizes sobre como plantar leguminosas aqui!

Aceder ao Manual de Diretrizes para produção sustentável de leguminosas

Casos de sucesso nacional, existem?

Sim! Seguem-se alguns casos de sucesso de empresas portuguesas no mercado das leguminosas.

Agrinemus

A Agrinemus produz tremoços em modo biológico certificado, para fazer face a um número crescente de consumidores interessados em produtos mais sustentáveis.

Comercializa, por exemplo, o tremoço com sabor picante, para o segmentos dos apreciadores deste travo, ou com flor de sal, com menos de 15% de sal que outras referências e mais cálcio e sais minerais, para quem se "preocupa com a saúde", assim como o tremoço com ervas aromáticas. Para além destes, recorre ao tremoço como matéria prima para os seus produtos transformados, tais como as "bolinhas aromáticas" (tipo almôndega), os "medalhões de tremoço" (um género de hambúrguer), o falafel e o paté, todos eles de base inteiramente vegetal.

IBAU!
Caminho Sustentável

Com sede localizada em Pombal,
IBAU! - Caminho Sustentável é uma empresa portuguesa especializada na confecção de refeições ultracongeladas de base inteiramente vegetal. Caracterizada pelo seu conceito inovador, foi criada em 2020 para responder às expectativas dos consumidores que procuram refeições estritamente vegetarianas, rápidas, saudáveis e inspiradas na gastronomia portuguesa, apelando ao interesse crescente do público em geral por este tipo de produtos.

"Através de vídeos e publicações tentamos sempre passar este conceito que nós tínhamos para passar a mensagem. Ser um pouco um meio facilitador de como podemos fazer mais pela sustentabilidade, como podemos fazer uma refeição sem carne nem peixe durante a semana. [Foi] esse tipo de questões que tentamos chegar às pessoas de alguma forma apesar das limitações... com essa finalidade de abrir também horizontes, não só em termos alimentares mas também a consciência ambiental".

Raquel Pedrosa, uma das co-fundadoras da IBAU! - Caminho Sustentável, a par com Daniela Couto, Raquel Pedrosa e Flávia Alves

CFER - Centre for Food Education e Research (Feijão de soja)

Especializada no desenvolvimento de novos produtos alimentares, otimização de receitas para negócios que atuem neste âmbito, e com um forte componente de inovação centrada na tecnologia de alimentos e bebidas, a CFER é uma empresa portuguesa de biotecnologia, reconhecida, em particular, devido ao seu projeto inovador de criação de um ovo vegetal, como alternativa ao ovo de galinha, desenvolvido em conunto com a Plantalicious, também uma empresa portuguesa, e que pode ser usado na alimentação e na indústria pasteleira.

Criado a partir do feijão de soja, graças às propriedades físico-químicas deste, a escolha do feijão de soja, segundo Daniel Abegão (fundador da CFER), deveu-se ao facto de ser uma das leguminosas nutricionalmente mais interessantes, e por permitir atingir as características sensoriais desejadas.

"O resultado final deixou-nos realmente entusiasmados, tanto pelo feedback que temos obtido dos primeiros consumidores, bem como pelo feedback dos meios de comunicação social nacionais e internacionais".